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Baterista, tecladista e DJ: rapaz com deficiência é músico autodidata

Filho de funcionários aposentados BB, Fábio vai além dos estereótipos

A história do Fábio Quadros Petry não se limita a essas linhas. Aos 38 anos, o rapaz, que tem características que se assemelham a de um autista, não tem um diagnóstico fechado até hoje e isso está longe de ser um problema. Filho de dois funcionários BB aposentados João Leopoldo Silva Petry, que foi Gerente de Logística da Gerel, em Porto Alegre, e Mara Luza Santos de Quadros, que atuou com atendimento ao público na Agência Cristóvão Colombo, na mesma cidade, Fabinho, como é conhecido, se destaca por suas habilidades e não por suas deficiências.

“Fomos deixando de buscar diagnósticos, pois nada de novo aparecia. Ele foi crescendo saudável, superando fragilidades, sendo estimulado e com sentimentos positivos elevados, que são muito naturais para ele. Fomos crescendo com ele. Parecia necessário para os profissionais escolher um caminho, andar em algum trilho, mesmo sem saber se daria em algum lugar. Passou a ser irrelevante - e cansativo para nós e acredito que para ele também. Nunca houve conclusão e, portanto, nem limites científicos para olhar para o Fábio. Felizmente! Ele podia contar com a liberdade de ter expectativas, sem a perspectiva de ficar preso em um padrão, fechado em um grupo, em uma pequena fração conhecida ou autorizada de um grande universo de possibilidades”, conta a mãe.

Entre tantas estimulações que recebia, um dia, meio sem querer, a família percebeu que a música despertava algo diferente no garoto, que ao mesmo o acalmava e o aguçava. Por volta dos sete anos, Fabinho ganhou o seu primeiro instrumento musical: uma escaleta eletrônica (um pequeno piano portátil de 32 teclas). Desde então, muitos outros instrumentos chegaram e ele aprendeu tudo sozinho, é um autodidata, inclusive a sua grande paixão: a bateria. O ritmo, a musicalidade e os sons estão presentes de forma constante na vida dele. Os pais e irmãos aprenderam a respeitar, usufruir e incentivar esses interesses, buscando sempre dar as condições para que ele desenvolvesse cada vez mais suas potencialidades.

“Ele começou a ser requisitado para fazer apresentações, sempre alegres e divertidas, em festas da família, de amigos e nos festivais da escola de música que frequentava, especialmente para se unir a grupos musicais e cantores. Pouco tempo depois, vieram os convites de várias bandas para tocar, gerando uma integração que o enche de satisfação. Caminho natural, com seu conhecimento musical, passou a atuar com DJ, o que faz até hoje”, orgulha-se o pai.

Os interesses de Fabio vão além da música. Gosta de atualidades, fatos do mundo, esportes e comunicação.“Ele adora conversar, onde quer que esteja. Tem um humor inteligente e peculiar e um grande coração. E quando se dirige a alguém, fala ao que vê de melhor naquela pessoa, muito além dos "defeitos" e aparência. Não teme rejeição, sempre se sente acolhido - e é! - e acolhe também. Tem uma memória incrivelmente privilegiada, guarda tudo o que o interessa, sendo muitas vezes o "arquivo" mais confiável de dados, fatos, eventos e experiências familiares”, relata Mara.

Fabio nunca namorou, mas é apaixonado pelas pessoas, seus amigos, seus colegas, seus irmãos e, agora, seus sobrinhos. Não faz qualquer tipo de distinção. Para ele não existem diferenças. Não concluiu o ensino básico, mas foi alfabetizado e, assim como na música, tudo que o atrai gera um grande estímulo de aprendizado. Lê e escreve muito bem. Tem grande domínio do inglês e de tecnologia. Por outro lado, tem dificuldade de excetuar algumas tarefas básicas. “É assim. E daí? Respeitar seus limites e valorizar suas competências”, enfatiza Petry. “E mesmo não sendo um autista, ou o que quer que possa ter sido considerado em algum momento, ele é a consciência viva da inclusão, do não preconceito, da pureza e amorosidade em olhar para o outro, seja como for esse outro”, pontua Mara.

Despindo-se de qualquer clichê sobre superação, Fábio é a vida real, é o celebrar as conquistas diárias.  É o copo meio cheio. “Ele gosta de rotina porque se sente seguro, como em uma zona de conforto, mas recebe muito bem as novidades, porque, criativo como é, vê novas formas de se manifestar. Olhar para o Fábio também é aceitação, é continuar interiorizando que o que não se encaixa não está errado: é apenas uma oportunidade de pensar e sentir diferente. É um outro jeito de ser e de viver num amplo universo de diferentes possibilidades, de expectativas alegres, de experiências ainda desconhecidas. Como ele mesmo define: é só o "jeito fabinho" de ser!”, finaliza a mãe.

Apabb

Há mais de 20 anos, João Leopoldo Silva Petry, pai de Fabio, atua ativamente como voluntário na Apabb (Associação de Pais, Amigos e Pessoas com Deficiência, de Funcionários do Banco do Brasil e da Comunidade).

 A Apabb é uma instituição sem fins lucrativos e de assistência social, voltada à inclusão e à qualidade de vida das pessoas com deficiência e ao apoio às suas famílias.

Fundada por funcionários do Banco do Brasil em 1987, está presente em 13 Estados e no Distrito Federal, tem sede em São Paulo, e desenvolve projetos nas áreas do serviço social, lazer, esporte e capacitação profissional.

Realizando cerca de 100 mil atendimentos anuais, a Apabb também participa de políticas públicas de defesa dos direitos da pessoa com deficiência e está aberta a toda comunidade e a todas as deficiências.

Conheça o trabalho da associação: www.apabb.org.br

2 de Abril

O  Dia Mundial de Conscientização do Autismo foi criado pela Organização das Nações Unidas, em 18 de dezembro de 2007, para a conscientização sobre o tema.

O primeiro evento foi realizado em 2 de abril de 2008 com participação do Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, um dos maiores incentivadores para a proposta de criação da data, pelos esforços de chamar a atenção sobre o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA).


Data de publicação: 02/04/2020

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