Notícias

Funcionários BB com autismo falam sobre diagnóstico tardio e mudanças na pandemia

No dia do orgulho autista, histórias de colegas Vitória e do Rio de Janeiro dão voz a causa  

Direto de Vitória (ES) 

Bruno Alcides Balarine, de 51 anos, morador de Vila Velha, na região Metropolitana da Grande Vitória (ES) é autista e pai de um garoto, de 7 anos, também autista. Mas essa realidade é relativamente nova na vida da família Balarine. 

Funcionário do BB há 19 anos e 6 meses, hoje atuando como Assistente de Negócios na Agência Empresa Vitória (ES), Bruno só foi diagnosticado com autismo na idade adulta, aos 48 anos de idade. 

 "O meu diagnóstico só aconteceu devido ao meu filho ser autista. A minha esposa começou a perceber muitos comportamentos semelhantes entre nós e comentou com o médico que acompanha meu filho. Ele pediu uma avaliação com a neuropsicóloga que confirmou a suspeita. Nestes anos todos, cheguei a ser diagnosticado com depressão, transtornos de ansiedade e até síndrome de pânico", conta". 

Somente a partir deste momento, Bruno conseguiu compreender seus próprios comportamentos e preencher várias lacunas de toda uma vida, como por exemplo a dificuldade de adaptação e de ser aceito nos mais variados "grupos". 

"Nós, os autistas adultos com diagnóstico tardio, temos muitos problemas devidos ao "masking", ou a camuflagem da condição, que nos leva a muito desgaste. Eu, devido ao intenso contato social no dia a dia, chego em casa muito esgotado. E o "masking" exige esse esforço diariamente. Com isso o diagnóstico se torna libertador e nos faz conhecer nossos limites". 

Quanto a sua vida dentro do Banco após o diagnóstico, o assistente relata que é subordinado a pessoas que compreenderam e compreendem sua condição. 

"Quando chego para trabalhar o gerente de relacionamento que estou subordinado já deixa as tarefas listadas para dia em uma folha com ordem de prioridade, com isso me ajuda a vencer a disfunção executiva. Ainda quanto a ser autista no BB, tenho que louvar a Cassi, pois tanto para meu filho quanto para mim sempre nos dá um grande suporte. Principalmente a unidade aqui de Vitória". 

Durante a pandemia, Bruno não se adaptou ao home office, pois trabalhar em casa atrapalha sua concentração, além do autismo ele também tem déficit de atenção, e as distrações do ambiente tornam impossível sua produtividade. 

Finalmente tendo conhecimento de ser quem é, Bruno aceita suas condições e defende o respeito as particularidades e as qualidades de cada um. 

"No dia do orgulho autista, eu só tenho que tentar levantar a bandeira do diagnóstico, pois eu me sinto privilegiado. Mas eu sei que nem todos tiveram/tem esta chance de conseguir o diagnóstico, seja por falta de dinheiro, falta de conhecimento ou ambos e outros mais variados motivos. Com meu filho eu vejo a importância do diagnóstico precoce, ele está muito mais sociável, sempre respeitando os limites dele. Tenho orgulho de dizer, sou autista e tenho um filho autista. Temos nossas limitações e qualidades como qualquer outro ser humano: Diferentes em nossas especificidades e iguais na sociedade!". 

 No Rio de Janeiro (RJ) 

 Patrícia Silva Cavalcante, de 35 anos, moradora do Rio de Janeiro viveu uma verdadeira batalha para conseguir ter seu diagnóstico. 

 Funcionária do BB há seis anos, Patrícia é escriturária, na agência 3111 Jardim Guanabara, e foi a Cassi quem abriu as portas para que ela conhecesse sua condição, somente aos 34 anos. 

 "Minha família é bem humilde. Logo, sempre me tratei pelo SUS. Aos 10 anos cheguei a ser diagnosticada com epilepsia, pois eu tinha crises na escola por conta do barulho e quase perdia a consciência (autistas costumam ter problemas sensoriais). Tomei um medicamento para epilepsia por anos. Somente na vida adulta um psiquiatra levantou a hipótese de crise de ansiedade. A Cassi foi fundamental para eu iniciar um tratamento correto. Ano passado comecei a me tratar com um psicólogo e uma psiquiatra, pois eu estava num quadro depressivo bastante complicado e ao longo do tratamento a psiquiatra levantou a hipótese de autismo (Asperger) e a psicóloga TCC também. E, enfim, esse diagnóstico foi fechado após um tempo". 

Sobre sua chegada ao Banco, Patrícia conta que teve bastante dificuldade, mas os colegas fizeram toda a diferença. 

"Foi bem complicada a minha adaptação no BB, tomei posse numa agência de rua e vários clientes reclamavam do meu tom de voz (autistas podem falar muito alto às vezes rs, e também, até hoje alguns reclamam que não olho nos olhos. Felizmente, a equipe que estava comigo na época da posse, em 2015, me acolheu muito bem, são meus melhores amigos até hoje". 

Patrícia ainda relata como tem sido a época da pandemia para ela, com sentimentos muito comuns entre as pessoas com autismo, como o desconforto com o uso de máscara e ansiedade descompensada. 

"Eu fiquei muito nervosa com máscara, ficava agoniada demais em ter que usar, fui testando muitos modelos até encontrar alguns que eu gostasse (acho que tenho umas 30 máscaras em casa) e pegar transporte público para vir trabalhar ainda me deixa muito nervosa".  

No dia 18 de junho, Patrícia deixa um recado para as famílias de pessoas autistas e reforça a importância da inclusão e de conhecimento sobre a condição. 

"Para os pais de autistas: não desistam da luta, procurarem todas as terapias (que tenham alguma comprovação científica possível), pois é possível sim melhorar bastante a questão da sociabilidade, eu mesma melhorei muito nos últimos 5 anos graças a terapia e medicamentos. Para os funcionários autistas: entrem no grupo BB azul no Facebook, participem do fórum. Autismo não tem cara! Nós existimos e temos algumas necessidades diferentes das pessoas neurotipicas e isso é só uma diferença e as diferenças devem ser contempladas dentro de uma instituição tão grande quanto o BB". 

Grupo BB Azul e Apabb  

Desde março de 2015, funcionárias do BB, mães de filhos que se enquadram no TEA (Transtorno do Espectro Autista), se uniram e criaram um grupo no Facebook chamado BB Azul. Através da rede social, elas trocam experiências, se ajudam mutuamente, fazem coro para a conscientização e ganham força para conquistar mais qualidade de vida. Atualmente, o BB Azul demanda, junto a Cassi e ao BB, ações relativas às necessidades das pessoas com deficiência. Hoje, o BB Azul conta com centenas de participantes e, para fazer parte, basta pedir autorização pelo Facebook ou escrever para rejanezanello@icloud.com ou marina.lorenzetti@uol.com.br. 

Apabb 

Fundada há 33 anos por funcionários BB, a Apabb é uma instituição sem fins lucrativos e de assistência social, voltada à inclusão e à qualidade de vida das pessoas com deficiência e ao apoio às suas famílias. A instituição está presente em 13 Estados e no Distrito Federal e desenvolve projetos nas áreas do serviço social, lazer, esporte e capacitação profissional. A Apabb é aberta a todas as pessoas e a todas as deficiências. Em 2020, conquistou uma certificação inédita e está entre as 100 melhores ONGs do Brasil no ano.   

 


Data de publicação: 17/06/2021

Cadastre-se para receber nossas novidades